Brasil – Crise econômica do século XIX
Esse post serve para sintetizar meu entendimento sobre os capítulos 17,
18 e 19, do livro Formação Econômica do Brasil (Furtado), e também sobre a aula
expositiva que tive hoje na PUC-SP.
A independência política para um Estado – Nação está diretamente ligado
com uma profunda crise econômica. Mas, afinal, quais são as preocupações de
Celso Furtado em relação a todo esse processo de independência do Brasil? Ora,
destacar as diferenças entre Brasil e EUA no século XVIII/XIX e entender a
profunda crise econômica sob hegemonia inglesa.
Qual
a principal crítica às teses explicativas sobre o atraso brasileiro? A
ausência de protecionismo alfandegário! A independência política do Brasil
ocorreu em um contexto mais amplo, em que já existiam transformações profundas
no capitalismo do século XVIII/XIX. Com a revolução industrial, o capital
mercantil perde o significado e fica subordinado ao capital industrial, em que
havia investimento de capital na esfera da produção.
Portanto,
vale dizer que surge o modo capitalista de produção, que pode ser dividido em:
- · Trabalho assalariado (mais-valia);
- · Maquinofatura, fator de extrema importância.
Ambos causando expansão da produtividade e da produção. Pode-se dizer
então que havia uma necessidade efetiva de ampliação dos mercados. Todo esse
modo de produção liberal entrava em conflito com o modo de produção
mercantilista das colônias, pois essas novas necessidades capitalistas criavam
barreiras no mundo colonial, que possuía prática de mercados exclusivos e
escravocratas.
Então,
retomando, a independência do Brasil e sua constituição em Estado-Nação ocorre
por uma crise do sistema colonial, causada pela revolução industrial no século
XVIII, período no qual a Inglaterra era a “oficina do mundo”, em que o modo
capitalista de produção de mercadorias se expandia de tal forma que houve
necessidade de expandir os mercados, e o mercantilismo, com seu monopólio,
pacto colonial e escravidão, era um obstáculo a ser superado.
Tendo
isso em mente, qual o panorama europeu no início do século XIX? Ora, a
Inglaterra foi a primeira nação a se industrializar, a “oficina do mundo”, país
em que o livre câmbio, liberalismo, rolava solto. Em Portugal, encontramos uma
situação um pouco diferente, em que ainda era uma nação mercantilista
“parasitária”. Mantém o império colonial, por subordinação crescente à
Inglaterra, porém é o entreposto entre as colônias e a Inglaterra.
A
França, no início do século XIX, estava em plena Era burguesa, com Napoleão no
poder, em que se consolidou a conquista de mercados e a revolução burguesa, que
se deu pelo confronto com a Inglaterra e nações absolutistas feudais, Portugal,
Espanha .....
O conflito com a “oficina do mundo” foi por motivos puramente
econômicos, em novembro de 1807 é feito o bloqueio continental. Porém, Portugal
e Rússia não cumprem a imposição francesa. No caso de Portugal é importante
destacar que havia pressão pelo lado francês, que ameaçavam invadir as terras
lusitanas, e dos ingleses, que ameaçavam guerra contra os portugueses. O que
ocorre é que a Inglaterra escolta a família real portuguesa enquanto a França
simplesmente ocupa Portugal sem qualquer desafio.
Para entender melhor essa situação, vale dizer que
o bloqueio continental, imposto pela França, não permitia qualquer relação
comercial com a Inglaterra, com intuito de enfraquecê-la. No período em
questão, Portugal sofria muita influência inglesa, portanto foi pressionado por
ambos os lados, até optar pelos ingleses.
Com a vinda da família real portuguesa ao Brasil,
inicia o processo de independência do mesmo, em 1808. Nesse período
estabeleceu-se liberdade comercial, fim do pacto colonial e o livre comércio.
Em 1822 ocorre a independência política com D. Pedro I e em 1831, o mesmo
abdica o poder, que por sua vez passa para representantes dos senhores de
terra.
O processo de independência do Brasil foi lento e
“pacífico”, uma vez que o poder se encontrava nas mãos de senhores de terra e
donos de escravos, da burocracia imperial portuguesa (D. Pedro I) e
representante dos interesses ingleses (MG, SP, RJ). E quem fica de fora desse
processo? Não há participação popular significativa e existe também o temor de
rebeliões de escravos.
O Brasil independente mantém a estrutura colonial de produção:
- · Plantation;
- · Escravidão;
- · Ordem do liberalismo à “moda brasileira”.
Enquanto a Inglaterra se mantinha como hegemonia na economia colonial do
Brasil como Estado Nacional. Em 1808, os portos se abrem para os produtos
ingleses, encerra-se o monopólio comercial e estabeleceu-se o livre comércio.
Em 1810, é feito um tratado de comércio, navegação, paz e amizade entre
Portugal e Inglaterra, feitos por Lord Strangford, que incluíam artigos como:
- · Taxas alfandegárias;
- 24% ad valorem a todos os países/amigos;
- 16% sobre o valor para Portugal;
- 15% sobre o valor para a Inglaterra.
- · Controle inglês no mercado brasileiro;
- · Direito de extraterritorialidade para os ingleses;
- · Direitos de exploração de madeiras, .... ;
- · Compromisso de fim do tráfico de escravos para o Brasil, limitação das áreas de comércio de escravos na África.
Bem, inicialmente, é interessante, antes de mostrar
a crise econômica em que o Brasil se encontrava no século XIX, mostrar como se
deu o desenvolvimento nos EUA com a sua independência. Uma vez que a crise
brasileira chega pouco depois da independência do Brasil de Portugal.
Em 1776 os EUA entram em guerra pela própria
independência com apoio da França. Com isso é possível traçar o perfil
econômico dos EUA. Em que o Sul possuía uma característica agrícola com produtos
como o Tabaco e o Algodão (que serão importantes para análise mais para
frente), levando-se em conta que o modo de produção era o plantation e que,
portanto, utiliza mão-de-obra escrava para produzir.
O Norte dos EUA, que creio ser melhor chamarmos por
“Nova Inglaterra”, ´por ter sido colônia de povoamento possui
manufaturas, estaleiros e pesca, além do comércio triangular (Nova Inglaterra –
Antilhas – Inglaterra e Nova Inglaterra – África – Antilhas). Portanto é
possível afirmar que a Nova Inglaterra era um mercado interno voltado às
manufaturas e à acumulação de capital. Com isso é possível classificar a
população da Nova Inglaterra em alguns grupos, como por exemplo Trabalhadores
assalariados, senhores de terra, escravos, pequenos agricultores, donos de
manufaturas, pequenos comerciantes e grandes mercadores. Levando-se em conta
que foi destes quatro últimos grupos que surgiu o ímpeto da
independência. Com essa classificação fica claro que se tratava de uma
sociedade diversificada e contraditória, uma vez que possuía trabalhadores
assalariados e escravos.
Com isso, os rumos econômicos da Nova Inglaterra se
traçavam em direção à industrialização e para o Oeste, o qual necessitou de
muitos imigrantes europeus atraídos por oferta de terras para fomentar o
mercado interno. Tudo isso nos leva a questionar o que se fez em relação às
dívidas do Estado Americano com construção de infra-estrutura. Bem, o Estado
possui recursos para saldar dívidas através de arrecadação de impostos. Quando
estes não são suficientes, lançam títulos da dívida pública para poder saldar
estas dívidas. Bem, e como funcionava esse sistema de títulos da dívida
pública? Exatamente como funciona hoje em dia, qualquer pessoa pode comprar
estes títulos para poder pagar a dívida do Estado, e o mesmo oferece retorno
aos credores com juros.
Depois de tudo isso dito, no caso escrito, é
importante ressaltar os objetivos econômicos dos da Nova Inglaterra. Este
baseava-se fundamentalmente no desenvolvimento industrial favorecido por leis
protecionistas. E o grande autor dessa formulação foi Alexander Hamilton, ávido
leitor de Adam Smith.
Com isso, podemos começar a explicar a crise
econômica que o Brasil se encontrava no século XIX. Com a independência do
Brasil, a partir do início do século XIX, os grandes agricultores tornam-se o
foco da economia brasileira. A economia agrária, como modo de produção,
funcionava como Plantation escravista. Produzindo algodão, tabaco e açúcar
(além de couro, erva-mate e outros que não eram o foco de produção). Como
organização social, o Brasil dividia-se em dois extremos: Os senhores de terra
e os escravos, de modo que entre estas classes possuía-se funcionários
públicos, soldados, padres, pequenos comerciantes e brancos, que eram homens
livres e pobres e se dividiam entre os que moravam nas cidades e os que
moravam nos campos, os chamados posseiros. Com isso, tem-se que neste período,
o crescimento anual médio das exportações era de 0,8% enquanto que o
crescimento populacional era de 1,3%. Com isso é possível concluir que existiu
um processo violento de empobrecimento, isso é uma primeira aproximação da crise
brasileira.
Uma segunda
aproximação nos permite concluir fatores interessantes. Como por exemplo uma
análise dos preços dos produtos exportados brasileiros nos períodos de 1821 –
1830 e 1841 – 1850 sofreu uma queda de 40% no mercado interno. E por que motivo
ocorre essa queda nos preços? Por causa da concorrência! O açúcar produzido nas
Antilhas competia diretamente com o açúcar brasileiro e causava a exportação do
mesmo. Enquanto que os EUA produziam algodão causando o mesmo efeito que o
açúcar das Antilhas, porém voltado para o algodão, obviamente. Enquanto ocorria
essa queda nos preços das exportações, os produtos importados da Inglaterra
mantém os preços estáveis. E a junção desses fatores acaba por causar uma
balança comercial crescentemente deficitária.
E qual foi a tendência econômica para aquele
período? Redução da renda interna, declínio da renda per capita. Também como
tendência teve-se o desenvolvimento da economia de subsistência, que era de
baixa produtividade resultando no desaparecimento da circulação monetária.
No panorama internacional ocorreu uma
impossibilidade de recuperar o dinamismo. Pois o açúcar sofria concorrência das
Antilhas, dos EUA, que produziam em Louisiana e em Cuba, e levando-se em conta
que a Europa também produzia açúcar, o chamado açúcar de beterraba. O algodão,
como já destacado, era produzido nos EUA, juntamente com o arroz. O fumo,
tabaco, sofreu declínio das exportações por causa da crise do tráfico negreiro.
Couro e erva-mate sofriam concorrência do Uruguai e Argentina.
Com tudo isso é possível compreender a crise na
balança comercial. Essa crise financeira podia ser lidada de duas maneiras pelo
Estado brasileiro. Com impostos de importação, porém com as taxas ad valorem de
15% eram muito baixas, havia problemas com arrecadação. A segunda forma para se
lidar com a crise financeira era através da emissão de moeda, causando
inflação.
O que leva o Brasil a empréstimos da Inglaterra, o qual é gasto com
navios, fardas e armas. O que nos leva a uma crise cambial que gera uma
desvalorização do cruzado (moeda corrente da época) frente à libra esterlina.
Portanto, há uma valorização dos produtos importados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário